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Nutrição no 1º ano de vida

O primeiro ano de vida pode dividir-se em 2 grandes fases: o aleitamento (por amamentação ou fórmula) e a diversificação alimentar. Ambas são fases importantíssimas para construir o microbiota do recém-nascido, o seu sistema imunitário, garantir um adequado crescimento e desenvolvimento e prevenir diversas patologias.



Diferentes entidades emitem diferentes recomendações em relação à duração e início de cada uma das fases. É por isso importante perceber o motivo dessas diferenças:

- A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o aleitamento materno seja iniciado na primeira hora após o nascimento e seja mantido em exclusividade até aos 6 meses e como complementar até aos 2 anos (1, 2). Não nos podemos esquecer que esta organização emite recomendações para todos os países, sejam eles desenvolvidos ou em desenvolvimento. Assim sendo, prolongar a amamentação é uma forma de garantir uma nutrição adequada ao máximo de pessoas possível e minimizar o risco de infeções e a mortalidade infantil.

- Por outro lado, a European Food Safety Authority (EFSA) e a European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) são entidades que emitem recomendações apenas para países europeus e referem que a diversificação alimentar deve ser iniciada entre a 17ª e a 26ª semana de vida (entre os 4 meses e 1 semana e os 6 meses e 2 semanas) uma vez que aumentam as necessidades energéticas e nutricionais do bebé a partir do 5º mês e é seguro para o mesmo (3, 4, 5). Referem ainda que em países desenvolvidos, com baixa incidência de doenças infecciosas, não é possível comprovar os benefícios para a saúde da criança em manter o aleitamento até aos 2 anos, devendo este manter-se enquanto a mãe e a criança desejarem.


Benefícios da amamentação

- Comecemos por esclarecer que a amamentação é muito mais que o simples ato de nutrir: amamentar promove um vínculo emocional forte e duradouro, entre a mãe e o filho (6). Para além disso o leite materno possui nutrientes funcionais (ex.: com funções tróficas, digestivas, imunomoduladoras e antimicrobianas) importantes para a saúde do recém-nascido e que não se encontram nas fórmulas infantis (6). Devido a esses nutrientes funcionais, a amamentação ou aleitamento materno diminui o risco de doenças a curto e longo prazo para o recém-nascido (ex.: infeções respiratórias e gastrointestinais, obesidade), mas também para a mãe (ex.: diabetes mellitus tipo 2, cancro do ovário) (7).

- Nos últimos anos tem-se demonstrado ainda a capacidade da composição nutricional e energética do leite materno se adaptar às características da mãe (ex.: patologias, idade) e do recém-nascido (ex.: prematuridade, idade, adequação do peso à nascença) de forma a garantir o desenvolvimento adequado do bebé (6, 8).

- E não nos esqueçamos que o leite materno permite o treino dos diferentes paladares pelo bebé, uma vez que o seu sabor é modulado pela alimentação da mãe, assim como acontece com o sabor do líquido amniótico durante a gravidez (6). Ou seja, durante a gravidez e amamentação, a mãe deve ingerir uma grande variedade de frutas e hortícolas, para que o seu filho os reconheça mais tarde e a fase de diversificação alimentar seja mais tranquila para ambos.

O corpo humano é fascinante, não é?


Cuidados durante a diversificação alimentar

Esta é uma fase em que o bebé vai explorar pela primeira vez outros sabores e texturas, para além do leite. É por isso importante ter atenção:

- Aos sinais de prontidão demonstrados pelo bebé para iniciar alimentos pastosos, semi-sólidos e sólidos (6, 8). Existem vários sinais que nos permitem identificar o nível de desenvolvimento neurológico e motor do bebé, percebendo assim que texturas podem ser introduzidas, independentemente da sua idade.

- À ordem em que os sabores são introduzidos, para facilitar a sua aceitação, estimulando a preferência do bebé por sabores não doces (6, 8). Este é um fator muito importante e que muitas vezes é esquecido na prática. Por exemplo, se iniciarmos a diversificação alimentar por alimentos doces (como a papa), a fase inicial da introdução de alimentos menos doces e por vezes mais amargos (como a sopa ou fruta) será mais complicada. Assim sendo, a sopa é uma ótima opção para iniciar a diversificação alimentar.



Nunca se esqueça do mais importante: as crianças são feitas dos nutrientes que lhes damos para crescer. Por isso, garanta que a sua criança é feita de material de qualidade!



Referências

  1. WHO. The optimal duration of exclusive breastfeeding: report of an expert consultation. 2001

  2. WHO. Complementary feeding: Report of the global consultation. Geneva: WHO; 2002

  3. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific opinion on the appropriate age for introduction of complementary feeding of infants. EFSA Journal. 2009; 7:1423-1-38

  4. ESPGHAN. Breast-feeding: A commentary by the ESPGHAN Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2009;49(1):112-25

  5. ESPGHAN. Complementary Feeding: A Position Paper by the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) Committee on Nutrition. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2017;64(1):119-132

  6. DGS. Alimentação Saudável dos 0 aos 6 anos – Linhas De Orientação Para Profissionais E Educadores. 2019

  7. Victora CG, Bahl R, Barros AJ, França GV, Horton S, Krasevec J, et al.; Lancet Breastfeeding Series Group. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet 2016;387:475-490

  8. APN. Alimentação nos primeiros 1000 dias de vida: um presente para o futuro. 2019


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