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Introdução alimentar: como e quando?

Atualmente os pais têm acesso a muito mais informação sobre a introdução alimentar dos seus bebés através das redes socias, livros, podcasts, workshops, etc. Contudo, quando comparam a informação dada pelo(a) pediatra, médico(a) de família, enfermeiro(a), nutricionista e aquela que foram pesquisar de forma autónoma, deparam-se com informações contraditórias e muitas vezes incompatíveis.

 

Então quando é que devemos começar a introdução alimentar?

A resposta a esta pergunta é simples: entre os 4 e os 6 meses, quando o bebé tiver os sinais de prontidão necessários.

Se quisermos oferecer purés à colher ao bebé precisamos apenas que ele não empurre a colher para fora da boca com a língua, não cerre os lábios e que consiga permanecer sentado numa posição estável, segurando a cabeça sem precisar de apoio.

Se quisermos oferecer alimentos em pedaços para o bebé agarrar com as mãos e levar à boca sozinho, temos de esperar pelos 6 meses (às vezes um pouco mais).

Ou seja, o momento ideal para iniciar a introdução alimentar vai depender do desenvolvimento neuro-motor do seu bebé e da forma como pretende que esses alimentos sejam oferecidos (em puré ou em pedaços), mas situa-se algures entre os 4 meses e os 6 meses e 1 semana.

 

Devemos começar pela papa e depois passar para a sopa?

Não - e acreditem que digo isto para vos facilitar bastante a vida.

Os bebés nascem com uma preferência natural pelo sabor doce para que aceitem o leite, mas se não contrariarmos essa preferência, aumentamos bastante a probabilidade de a criança vir a desenvolver mais tarde excesso de peso, obesidade e/ou diabetes.

Ao começar pela papa ou pela tradicional sopa de cenoura, abóbora e batata-doce (ambas com um paladar bastante doce), aumentamos a probabilidade de o bebé rejeitar depois sopas ou alimentos com paladar menos doce (ex.: brócolos, nabo, kiwi, iogurte natural).

Por isso, na introdução alimentar vamos focar-nos essencialmente em ensinar o bebé a gostar primeiro do amargo e do ácido e vamos oferecer alimentos muito pouco doces.

As minhas opções de eleição para primeiro alimento a introduzir são os legumes com paladares menos doces (ex.: brócolo, couve-flor), passando para frutas igualmente desafiantes (ex.: maçã verde cozida, kiwi) e depois então passarmos àqueles com sabores mais doces (ex.: cenoura, abóbora, batata doce, banana, manga).

Depois de garantirmos que o bebé aceita uma grande variedade de legumes e frutas com sabores menos doces, podemos então ponderar (ou não) a oferta de uma papa não-láctea, multicereais, sem açúcares adicionados nem sabores (ex.: fruta, bolacha).

 

E existe ou não uma ordem que deve ser seguida?

Não. Não existe nenhuma regra fixa em relação à ordem em que os alimentos devem ser introduzidos. Sim, provavelmente algum profissional de saúde já lhe disse para só introduzir o peixe aos 7 meses, o iogurte aos 8 meses e o ovo aos 9 meses. Essa informação encontra-se num documento da DGS que faz uma sugestão de como pode ser feita a introdução alimentar, nomeadamente dos principais alergénios, mas não é obrigatório que seja feita dessa forma (até porque essa ordem não é sustentada por qualquer evidência científica) e todos os alergénios podem ser introduzidos a partir dos 4 meses (e no máximo até aos 12 meses).

Cada família deve escolher qual a ordem que lhes faz mais sentido de acordo com as necessidades e características do bebé a cada momento (ex.: o iogurte pode ajudar a regular o trânsito intestinal, a manteiga de amendoim pode ajudar a recuperar algum peso perdido) os alimentos que os pais têm o hábito de consumir (ex.: podemos introduzir as leguminosas ou a soja mais cedo se os pais forem vegetarianos) e discutindo com o profissional de saúde eventuais vantagens/desvantagens de escolher uma determinada ordem.

 

Qual o melhor método? O Baby-led Weaning (BLW) ou o tradicional?

Parece que hoje em dia existem dois métodos de introdução alimentar – o “BLW” (guiado pelo bebé ou autoalimentação) e o “tradicional” (guiado pelos pais, à colher) – e os pais sentem-se muitas vezes pressionados a escolher apenas um deles, como se a coexistência de ambos não fosse possível.

Na realidade, nenhum método é melhor que o outro, ou ideal. Não pode existir um conjunto de regras que se aplique de igual forma a todas as famílias, porque todas as famílias têm necessidades diferentes.

O mais importante é que, independentemente do “método” escolhido, nunca ofereçam alimentos em pedaços antes dos 6 meses, garantam a evolução atempada das texturas para promover o treino da mastigação (por volta dos 8-9 meses) para garantir que aos 10 meses o bebé consegue autoalimentar-se sozinho alimentos em pedaços e beber água através de um copo aberto. Além disso, ao oferecer alimentos em pedaços é fundamental garantirmos que são oferecidos em cortes e texturas seguros para evitar o engasgamento e asfixia.

Ou seja, na realidade, mesmo que optem por começar por um “método tradicional” onde oferecem ao bebé purés à colher, por volta dos 9 meses têm que começar a implementar também o “BLW” para garantir o adequado desenvolvimento oro facial do bebé. A oferta apenas de alimentos em puré até aos 12 meses não é recomendada porque compromete o desenvolvimento da mastigação e da fala do bebé, aumentando muito o risco de se tornar uma criança seletiva que rejeita alimentos em pedaços (especialmente frutas e vegetais).

 

Sente-se assoberbado(a) e ansioso(a) em relação à introdução alimentar?

Bem sei que é muita informação nova, mas o meu objetivo é ajudar-vos a simplificar e não a complicar. A verdade é que cada vez são publicados mais estudos sobre este tema e por isso as recomendações atuais são muito diferentes das que foram dadas aos nossos pais ou aos nossos avós. É verdade que fizeram de maneira diferente e estamos cá para contar a história, mas também somos a geração com mais problemas de excesso de peso, obesidade, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, e tudo isto começa a ser programado (ou pode ser evitado) durante a gravidez e a introdução alimentar.

Nas minhas consultas, toda a introdução alimentar é discutida com os pais para que seja 100% adaptada às suas rotinas, preferências e receios e às características, desenvolvimento e necessidades do bebé. Não existem certos nem errados. As únicas regras são em relação aos alimentos proibidos e ao cumprimento de consumos mínimos e máximos de determinados alimentos. De resto, tudo é decidido em conjunto para tornar a experiência o mais tranquila e descomplicada possível. Porque é suposto que a introdução alimentar seja uma fase de exploração positiva para toda a família e não um motivo de stress ou ansiedade.

 

Ficou com dúvidas? Precisa de ajuda? Mande-me um email (crescercomsabor@gmail.com) ou uma mensagem através das redes sociais (@crescercomsabor), ou marque uma consulta de nutrição comigo na Crescer com Sabor (Rua Padre José Joaquim Rebelo, 4C 9500-782).

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