top of page

Açúcar vs Adoçantes... Porquê insistir no doce?

Cada vez encontramos mais produtos “Sem adição de açúcares” ou “Zero açúcares” nas prateleiras do supermercado. Mas se não têm açúcares e são doces, têm o quê?

Será que não têm mesmo açúcares? Ou será que adicionaram outros ingredientes que não são considerados açúcar, mas na realidade servem para adoçar o produto? Ou talvez tenham adicionado adoçantes para substituir o açúcar...

 

Afinal, qual a melhor opção? Vale a pena optar por estes produtos? Vamos acabar com este dilema com o artigo de hoje, analisando o tema por faixas etárias.

 


Açúcar dos 6 aos 24 meses:

Os bebés nascem com uma preferência natural pelo paladar doce para que aceite o leite materno e uma rejeição inata de tudo o que é amargo ou ácido para evitar que ingiram substâncias tóxicas (ex.: detergente, lixívia) – sim, o corpo humano é muito inteligente.

No entanto, na introdução alimentar o papel dos cuidadores é contrariar estas preferências e aversões inatas, ensinando a gostar cada vez mais de alimentos pouco doces e a aceitar cada vez mais alimentos amargos e ácidos (ex.: iogurte natural, kiwi).

 

Desta forma, torna-se proibido oferecer alimentos com açúcar adicionado, ou seja, nenhuma destas designações pode aparecer na lista de ingredientes: açúcar, glicose, frutose, sacarose, lactose, maltose, dextrose, maltodextrina, mel, geleia, melaço, xarope de (...), sumo de (...), concentrado de (...), sumo concentrado de (...), extrato de malte, amido modificado, amido invertido, amido de milho, farinha de trigo hidrolisada, farinha de trigo extensamente hidrolisada...).

 

Então, supostamente, se na embalagem disser “sem açúcares adicionados”, posso oferecer ao bebé, certo? Errado. Infelizmente na legislação europeia não são considerados “açúcar” todos os termos que referi acima, e por isso, por exemplo podem usar sumo concentrado de cenoura para adoçar o produto e ter na mesma “sem açúcares adicionados” escrito a letras bem grandes na parte da frente da embalagem.

Não confiem, leiam sempre a lista de ingredientes!

 

Para evitarmos o paladar muito doce, fica também vedada a oferta de sumos de fruta (mesmo que 100% naturais e espremidos em casa) ou água de cozedura da fruta, bebidas ou iogurtes açucarados (ex.: iogurtes de aromas, sumos, refrigerantes, águas com sabores, bebidas vegetais com adição de açúcar) ou alimentos ricos em açúcar usados normalmente para adoçar receitas (ex.: tâmaras, sumo de fruta, mel).

 


Dos 2 aos 10 anos

Dos 2 aos 4 anos a quantidade máxima de açúcar a ingerir por dia é de 16g.

Olhando apenas para este número pode parecer difícil de o ultrapassar, mas se eu vos disser que com apenas um pacotinho de leite achocolatado ou um iogurte de aromas já ultrapassaram muitas vezes as 18g, talvez consigam perceber o porquê de eu continuar a recomendar evitar produtos açucarados, especialmente produtos direcionados para crianças, (cheios de bonequinhos na embalagem) que são normalmente muito mais doces que as versões para adultos. Dos 4 aos 7 anos continuem a evitar oferecer alimentos ricos em açúcar uma vez que a quantidade máxima permitida por dia é de apenas 20g, passando depois para 23g até aos 10 anos.


E os produtos com adoçantes em vez de açúcar?

A grande maioria dos produtos “Zero Açúcar” têm adoçantes artificiais para o substituir, conseguindo muitas vezes ter um paladar ainda mais doce que a versão açúcarada. O consumo de adoçantes (ou edulcorantes) é considerado seguro a partir dos 2 anos se forem respeitadas as doses diárias admissíveis (DDA):

·      Se a criança exceder os 20g/dia de Polióis (Sorbitol E420, Manitol E421, Lactilol E966, Xilitol E967 e Eritritol E968), pode desencadear sintomas gastrointestinais (ex.: flatulência, diarreia, cólicas, náuseas ou vómitos).

·      Em relação ao Aspartame (E951), não deve exceder os 40mg/kg/dia, sendo que é contraindicado em crianças com fenilcetonúria.

·      Não deve ultrapassar os 15mg/kg/dia de Acessulfame-K (E950).

·      Quanto à Sucralose (E955) e à Sacarina (E954), não deve exceder as 5mg/kg/dia.

·      Em relação ao Ciclamato de sódio (E952) não deve ultrapassar as 7mg/kg/dia.

 

Uma vez que é muito difícil quantificarmos os adoçantes presentes nos produtos e consumidos pela criança, evite ao máximo oferecer produtos com adoçantes, porque, devido ao seu baixo peso corporal, estas DDA podem ser rapidamente atingidas e/ou ultrapassadas.



Então devo optar pelo produto com açúcar ou adoçantes?

Tendo em conta o que já abordamos, provavelmente devem estar a chegar à conclusão que, desta forma, torna-se difícil oferecer um iogurte de aromas, uma gelatina, ou um refrigerante à criança, porque ou têm açúcar adicionado, ou têm adoçantes... E será que precisam?

 

No fundo estamos a tentar a todo o custo oferecer à criança alimentos com sabor muito doce, por acharmos que ela os vai preferir. E é um facto que as crianças nascem com a preferência natural pelo sabor doce, mas se a reforçarmos, só vamos estar a aumentar o risco de, a curto prazo, desenvolver cáries dentárias, mas também que a médio-longo prazo venha a desenvolver insulinorresistência, diabetes, excesso de peso, obesidade e doenças cardiovasculares.

 

Não acreditem apenas nas minhas palavras, os estudos falam por si e relatam que:

  • Verificou-se o dobro da prevalência de obesidade num grupo de crianças que preferiu o sabor muito doce, quando comparadas ao grupo que preferiu o sabor pouco doce.

  • Quanto maior a preferência da criança pelo sabor doce, menor o seu Índice de Adesão à Dieta Saudável. Quanto maior a preferência da criança pelo sabor amargo, maior o seu Índice de Adesão à Dieta Saudável.



Conclusão

Se educarmos o paladar das crianças para que gostem de sabores amargos (ex.: lacticínios naturais, frutas, vegetais) e prefiram sabores pouco doces, estamos a promover uma maior adesão à dieta saudável e a prevenir o desenvolvimento de excesso de peso e obesidade, não só durante a infância, mas talvez até ao longo de toda a sua vida (uma vez que estas preferências normalmente se mantêm por muitos anos).

 

Toda esta educação do paladar começa desde cedo, mas nunca é tarde demais para começar: as papilas gustativas renovam-se a cada 7-10 dias, e precisamos de cerca de 10 exposições ao mesmo alimento até o aceitarmos (provar só uma vez não é suficiente para tirar conclusões sobre se gostam ou não).

 

Portanto, respondendo à questão inicial “Afinal devo escolher o produto original com açúcar ou a versão sem açúcar/com adoçantes?”:

  • Devo optar pelos produtos presentes na Roda dos Alimentos e consumi-los diariamente ao natural (sem adição de açúcares ou adoçantes).

  • Em situações ocasionais, a partir dos 2 anos, se for para consumir um produto doce, tente que seja o menos doce possível (independentemente de ter açúcar ou adoçante) para não estimular a preferência por esse paladar.

 

Ficou com dúvidas? Precisa de ajuda? Mande-me um email (crescercomsabor@gmail.com) ou uma mensagem através das redes sociais (@crescercomsabor), ou marque uma consulta de nutrição comigo na Crescer com Sabor (Rua Padre José Joaquim Rebelo, 4C 9500-782).

コメント


bottom of page